terça-feira, 14 de junho de 2011

Da impermanência e sentido da vida

Mais uma vez me deparo com a finitude da existência. É a terceira partida de uma pessoa próxima de mim ou próxima de alguém próximo de mim, neste ano. Sempre me comovo às lágrimas nestes momentos de passagem, quando um espírito deixa seu corpo como uma roupa que foi usada até o ponto em que não lhe serve mais. Um espírito que larga a matéria para se alargar fora dela. Mas por desconhecermos seu percurso, nós, que aqui permanecemos, sofremos. Banhamos o evento com a água benta de nosso corpo abençoada pela dor da perda do objeto de nosso amor. Choro de amor e poesia
Poder prantear os que partem é uma benção, uma carta de amor ao nosso luto. O pranto liberta a dor aprisionada no coração. O luto se transforma em constatação e acedência. Mas ao deparar com a impermanência, nos quedamos impacientes. Esbarramos sempre no por que de estarmos atados a essa condição transitória, de não podermos reter a existência pelo tempo que queremos. Permanecer ao lado dos que amamos por muitas décadas, quem sabe séculos. 
Temos de vê-los partir e nos conformar. Porque não há nada a fazer diante da inevitabilidade da morte. Porém subsiste em nós um fragmento de cada um que parte. Somos constituídos por essas partes portanto eles, de algum modo, também permanecem. 
Honremos esses que partem, essas nossas partes, na presença. Enquanto aqui permanecemos, estejamos. A cada momento, no presente. Vivamos cada dia como o último retirando da vida o puro encanto de existir. O prazer da comida, do toque e do abraço, da dança e do gesto, do sorriso, do beijo e da risada. Celebremos essas vidas bem ou mal vividas sem ressalvas. Celebremos sem reservas as partidas como celebramos as chegadas. 
Desejemos que seus espíritos empreendam uma viagem de luz. Que alcem voo, livres e felizes como pássaros. Que atinjam as mais altas notas. Que se elevem nas mais elevadas frequências. E que retornem a nós como nossas partes perdidas, a cada sorriso que morre em nossas bocas quando deles nos recordamos; e a cada lágrima que vertemos em sua ausência. 
E continuemos, extraindo dessa constatação da impermanência o sentido da jornada.


Ao Bruno, com amor.