sábado, 30 de julho de 2011

O que você faria se só te restasse um dia?

Hoje pela manhã recebi de minha amiga Mônica Iaromila por e-mail, o vídeo com o depoimento de um sobrevivente do pouso de um avião no rio Hudson, em Nova York, na tarde do dia 15 de janeiro de 2009. Coincidentemente, ontem assisti a um filme, por sugestão de meu professor da formação de Coaching, Bruno Juliani, 'Poder além da vida', com o incrível Nick Nolte falando - com uma voz visceral estranhamente semelhante a do Tom Waits - e sabedoria insuspeita, a um jovem ginasta hedonista e arrogante cujo objetivo é trazer para casa a medalha de ouro das Olimpíadas. Ambos, o homem do acidente e o personagem do filme, vivem uma experiência que marca suas vidas para sempre e os transforma. 
Para mim ficou um aprendizado em comum: a vida é transitória e o que importa é o percurso, não a chegada; há sempre algo acontecendo e nada é ordinário. 
Há um incrível poder oculto no AGORA. Não um poder sobre si mesmo, tampouco o poder sobre o outro, mas tão somente o poder da PRESENÇA. 
A vida é breve e nós estamos sempre ou no passado ou no futuro, nunca no presente. E, em geral, sequer sabemos o que é realmente essencial para nós ou quem é realmente importante nas nossas vidas. 
Desse modo, desperdiçamos relações e experiências e continuamos projetando que seremos felizes quando...
O que você faria se só te restasse um dia? 



terça-feira, 26 de julho de 2011

Viver e consistir sem violência ou radicalismos

Mais uma vez somos surpreendidos por um massacre. E desta vez, como a imprensa tem reafirmado: na terra da paz. Será que não nos resta nada além de perplexidade? Talvez possamos buscar entender as motivações de tal ato, um elemento a mais para compreender o gênero humano e nos mover nas transformações que o mundo atravessa de forma equilibrada e consistente. 
O massacre em Oslo e na ilha de Utoeya, na Noruega, um país conhecido por baixos índices de criminalidade - no qual um único homem deixou um rastro de destruição e ceifou a vida de mais de setenta pessoas em um curto espaço de tempo e em territórios diferentes -  me levou a pensar sobre o quanto diferenças ideológicas, políticas e religiosas podem servir de combustível para alimentar e explodir o ódio.
Em seu manifesto intitulado 2083: Uma Declaração Européia de Independência, Anders Behring Breivik  declara "guerra de sangue" contra imigrantes e marxistas e critica o Brasil por sua 'revolução marxista' que redundou numa 'catástrofe' com a 'mistura de raças', resultando em figurar como um país de 'segundo mundo' por seu 'baixo nível de coesão social'. Confusões e idiossincrasias a parte, seu manifesto de 1518 páginas é um plágio dos documentos do terrorista americano Ted Kaczynski, o Unabomber. 
Quem leu o manifesto de Unabomber já sabe que se trata de um texto extremista onde usa de sarcasmo afirmando coisas como ‘não que eu esteja dizendo que este ou aquele seja inferior, mas que eles se sentem inferiores’ se referindo as ditas minorias: índios, negros, homossexuais e mulheres e rotulando de 'leftist' aqueles que defendem os direitos dessas minorias, bem como o direito dos animais, afirmando que eles próprios se identificam com seus defendidos porque se sentem igualmente 'perdedores'. 
"The leftist is antagonistic to the concept of competition because, deep inside, he feels like a loser." 
Anders Behring defende o 'uso de terrorismo para despertar as massas' e suas ações como 'atrocidades necessárias' revindicando a intenção de salvar seu país e a Europa do islamismo e marxismo. Ted Kaczynski deixou claro o que defende nesta frase acima. Muda o cenário sócio-político e econômico, alternam-se as ideologias e reivindicações, mas o discurso extremista se assemelha, a ação de violência é quase sempre idêntica e o fator central é sempre o mesmo: a COMPETIÇÃO. 
A competição é o que há de central na macropolítica e, convenhamos, se faz sentir todo o tempo nas micropolíticas. E competição é resultado de crença na falta e sentimento de desconexão. Por um lado você tem um homem ensandecido por questões ideológicas e políticas (e sabe-se lá quais outros fatores criam um assassino em massa) capaz de tal violência planejada, completamente desconectado de suas vítimas. Por outro você tem pessoas sofrendo com a morte estúpida de estranhos, em profunda conexão com o outro, prontos a um ato de solidariedade às vítimas ou famílias das vítimas. Em comum eles tem o fato de pertencerem ao gênero humano.
Coincidentemente eu estava assistindo ao filme Zeitgeist, de 2007, produzido por Peter Joseph. O filme critica abertamente o cristianismo e o judaísmo; afirma que não só o Governo dos Estados Unidos sabia dos ataques ao World Trade Center como que sua queda foi resultado de uma planejada demolição controlada pelo próprio governo para implantar a Lei Anti-Terrorismo e dar sustentabilidade a sua agenda política contra os países árabes; e por último, apresenta uma teoria da conspiração que acusa a elite econômica de crimes envolvendo o Banco Central dos Estados Unidos para deter o poder mundial. O filme conta com uma segunda edição, Zeitgeist Addendum, de 2008,  que trata de temas como globalização, manipulação do homem por grandes corporações e instituições financeiras, a insustentabilidade material e moral da humanidade e apresenta o Projeto Vênus como solução para os problemas da humanidade. E também possui uma instituição mundial chamada Movimento Zeitgeist, que tem como missão "sustentar uma mudança radical na forma como encaramos e conduzimos a vida, de modo a enxergarmos o mundo independente de fronteiras e reconhecendo a humanidade como família, sustentando, assim, alterações que proporcionem bem-estar para a população global e não apenas para pessoas/grupos privilegiados, substituindo o sistema monetário por uma economia baseada em recursos".
Uma bela premissa do GANHAR-GANHAR, baseada na ABUNDÂNCIA, envolta num excelente discurso e pesquisas científicas. Porém o modo como foi apresentada no filme é sofrível, atacando de pronto duas grandes instituições religiosas históricas e baseando-se em teorias da conspiração e em inverdades travestidas de estudo científico. Com um olhar mais apurado, as teorias do filme são prontamente derrubadas. 
Em terra de cego quem tem um olho é rei. Assim como Peter Joseph e Jacque Fresco, do Movimento Zeitgeist, os assassinos em massa citados acima não são ignorantes, ao contrário, trata-se de dois jovens com inteligência acima da média e muito, muito conhecimento adquirido sobre diversos assuntos, em grande parte na 'rede mundial' que está acessível a todos. Do mesmo modo que os primeiros exercem influência sobre as pessoas através de seus discursos muito bem construídos, fazendo refletir sobre 'soluções pacíficas', sabemos que o dois últimos também fazem adeptos através da violência explícita. 
Aos 'simples mortais' que também são 'não seguidores', o que resta? Refletir sobre suas próprias ideologias - sejam extremistas de esquerda ou de direita, socialistas, fundamentalistas, nacionalistas, eugenistas, racistas, nazistas, islamófobas, homofóbicas ou machistas. Refletir sobre o direito à vida comum a todos os seres humanos e sobre o respeito ao outro. Quem sabe possamos nos esforçar um pouco mais e buscar uma maior conexão com o 'gênero humano' de modo a não reforçar embates baseados em diferenças ideológicas, de gênero, étnicas e religiosas nas nossas relações mais íntimas, sociais ou políticas? Quantos de nós não reagem com violência velada (ou explícita) quando sentem seus 'territórios' ameaçados, incluindo seu 'território íntimo', quando sentem sua precária estabilidade ameaçada? Toda relação é política e passa por questões ideológicas, não há como ser diferente. Todos estamos no mesmo barco e a deriva em nossas próprias subjetividades. 
Pensemos sobre o papel que estamos representando no contexto social, nas nossas relações íntimas, sobre as concessões que fazemos, as inconsistências que nutrimos, as pequenas violências que alimentamos dia-a-dia. Pensemos sobre que tipo de influência estamos exercendo no mundo. 
Afinal, 'pensar é esculpir'. 
Quem sabe conseguiremos, assim, ao invés de uma 'nova ordem mundial', criar uma nova e consistente 'escultura social'
Viver e consistir sem violência e sem radicalismo.