quarta-feira, 13 de julho de 2011

O enigma da Sphynx - porque o corpo 'quer' ser gordo

Minha gata chamada Sphynx pesa cerca de 6,5kg, tem uma cabeça pequena encimando um corpo desproporcionalmente ovalado de modo que com sua cor castanha se assemelha a um croquete com cabeça. Sei, não é uma imagem muito animadora. Mas ela é fofa e eu a amo. Bem, eu já tentei fazê-la emagrecer mudando a ração e diminuindo gradativamente a comida. Porém,  parece que quanto mais restrinjo a comida, mais ela engorda. Pensei então que exercícios ajudariam, então comecei a surpreende-la e assusta-la para que corresse pela casa. Disparava atrás dela e num primeiro momento ela corria de mim, para depois simplesmente buscar abrigo sob um móvel. Resultado: eu cansada de correr e com cara de tacho e ela me olhando como se me achasse uma idiota por interromper seu sossego e tentar fazê-la se exercitar. Não eliminamos nem um grama e sequer meio centímetro de circunferência, eu e ela. Não preciso dizer que desisti desse exercício temporariamente, embora ela continue sob dieta prescrita. Estou considerando a possibilidade de emprestar um cachorro e traze-lo para casa. Talvez assim ela se anime a fugir efetivamente e seu cérebro dispare um outro programa que a faça emagrecer. 
Concluí que o corpo da Sphynx acha que ser gordo é bom para sua sobrevivência. Sphynx sofreu grande privação de alimentos, antes de nós a adotarmos, nos primeiros meses de vida. Com a restrição de alimento, seu cérebro registra  escassez de comida e resolve enviar um comando para o corpo acumular e manter a gordura.
É precisamente isso o que acontece com nosso corpo quando estamos em dieta restritiva com o objetivo de emagrecer. Porque nosso sistema límbico funciona segundo um programa milenar que só entende três tipos de ameaça à vida: frio, fome e predadores. No caso do frio, o corpo acumula a maior quantidade de gordura num menor espaço de tempo, que serve como proteção aos órgãos. Sobre a escassez de alimentos e consequente fome, mais uma vez o cérebro envia um comando para o corpo acumular gorduras uma vez que não sabe quando terá disponibilidade de alimentos novamente. Somente um predador dispararia no cérebro um programa que funciona segundo o sistema de luta e fuga, de forma que um corpo gordo não responderia. No caso deste tipo de ameaça, o cérebro entende que é melhor para a sobrevivência do corpo que este seja mais magro e ágil. Baseada nesse conceito é que achei que o melhor Spa para Sphynx seria a presença de um predador que a fizesse se sentir realmente ameaçada. Alguém mais ameaçador do que eu.
Brincadeiras a parte, em nós humanos há uma espécie de adaptação deste programa. Porque nosso cérebro entende qualquer stress como ameaça a vida. Neste sentido, pessoas que sentem algum tipo de ameaça a sua integridade, acabam por desenvolver problemas de peso. O sobrepeso se transforma em  uma espécie de escudo de proteção. É algo entre a pessoa e seu possível agressor. Como agressão podemos entender muitas coisas: se nós sentimos nosso espaço pessoal invadido de algum modo, se sentimos que alguém nos feriu, se nos sentimos ameaçados, talvez nosso cérebro entenda que a melhor forma de nos manter vivos é através de um acúmulo de gordura e dispara um programa que, além de nos obrigar a comer a maior parte de alimentos disponíveis em um menor espaço de tempo, também evita que eliminemos o excedente. 'Não queime gordura' é a palavra de ordem para a preguiça nos impedir de nos exercitar. Esse processo todo acontece em um nível inconsciente, é claro.
E o que fazer com o paradoxo sócio-cultural: de um lado o padrão de beleza que determina um estereótipo esquálido estampado em capas de revistas e de outro uma quantidade vexatória de publicações gastronômicas e culinárias. Ou seja, você pode comprar a última edição da revista Gula e levar de brinde a Boa Forma. Há mais restaurantes disponíveis do que locais para se praticar exercícios. 
Neste pedaço do globo, onde há uma oferta ilimitada de alimentos processados e com baixo teor nutricional e em que você pode provar todas as 108 variedades de chocolate em um único corredor dentro de um shopping center - enquanto logo ali ao nosso lado... -  bem, é preciso ter uma vontade férrea para seguir qualquer tipo de dieta. Sem dizer que nenhuma delas funciona efetivamente pela mesma razão que o corpo de minha gata acumula gordura todas as vezes que restrinjo sua alimentação: a ideia de escassez seguida da potencial falência futura do corpo vai fazer com que este queira manter para sobreviver. Por outro lado, se o alimento que comemos não atende as necessidades diárias de vitaminas, sais minerais e aminoácidos para que nosso corpo funcione bem, nosso cérebro pensará que teremos de consumir toneladas de lixo para poder processar um mínimo de nutrientes.
Comer é um ato social. E comer é bom. Mais do que comer por razões emocionais, ou seja, reunir-se com os amigos, com a família e com quem amamos para promover o prazer dos outros e o nosso próprio, esta espécie de fome da alma que faz com que devoremos uma caixa de Bis em menos de vinte minutos é, literalmente, uma droga: passado o efeito dos hormônios cuja produção foi quimicamente ativada pelo cérebro, caímos em desgraça. Tristeza, vazio e culpa. Quem não tem teto de vidro atire a primeira pedra.
Devemos entender as causas inconscientes de nossa fome emocional e mental, substituir cada vez mais os alimentos processados por alimentos integrais, orgânicos e frescos - a comida 'morta' pela comida 'viva' - e nos movimentar. 
NO DIET YES LIFE



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