segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Autoconhecimento, ferramentas de desenvolvimento e preconceito

Retornei há pouco de uma imersão no módulo básico de Hipnose Ericksoniana ministrado pelo incrível e espirituoso, Dr. Stephen Paul Adler, num recanto maravilhoso na Serra do Japi. Estou começando a realizar um sonho há muito acalentado, que é estudar Hipnose Ericksoniana, uma vez que sou completamente apaixonada pela obra de Milton Erickson. Alguns amigos que provavelmente não entendem esta minha inclinação, ao saberem que eu iria para o curso, brincaram que eu voltaria com mais poder e que passariam a me temer. Eu respondi, também em tom jocoso, que o único poder que me interessa é o poder sobre mim mesma. Mas isso é bem verdade. 
Tenho analisado, nos últimos dias, o que me atrai em alguns homens como Milton Erickson. E creio que é, principalmente, a congruência. Esta é uma qualidade rara. Além, é claro, de se debruçarem sobre si mesmos e seu  percurso de vida, vencendo desafios exteriores e superando os limites pessoais, dominando de tal modo a si mesmos e com tal conhecimento sobre sua própria biografia ou ofício que chegaram ao ponto de criarem um método. Posso citar ainda Joseph Beuys, o escultor alemão por muitos considerado como uma espécie de xamã, o brilhante músico Tom Waits (qualquer um que já assistiu a uma entrevista dele da década de 70 percebeu a transformação bem como a maturidade e serenidade alcançadas) e mesmo o mais jovem mestre espiritual do momento, Eckhart Tolle, que passou por uma intensa crise de pânico e sobreviveu para relatar a cura e a magia que reside no simples ato de estar presente no aqui-agora. 
Milton Erickson tem uma história difícil: contraiu poliomelite aos 17 anos e quedou paralisado em uma cama com um respirador automático, quando então só conseguia mover os olhos. O avião de Joseph Beuys foi alvejado durante a guerra e caiu sobre os montes da Criméia. Posteriormente foi acometido de uma crise depressiva que durou três anos. Tom Waits foi um alcoólatra que vivia em hotéis baratos e Eckhart Tolle era depressivo e suicida. E todos eles construíram uma bela obra a partir de suas vivências. 
Eu acredito que dentro de cada um de nós existe um núcleo indevassável e indestrutível.  Sensível aos ossos como sou, tenho testado essa teoria com bastante freqüência, diante de eventos sobre os quais tenho pouco ou nenhum controle, como as escolhas e ações de outras pessoas que podem afetar a mim e o curso de minha vida. Isso nem sempre é evitável, visto que vivemos em bando e estamos todos conectados. 
Creio que passamos a maior parte do tempo numa espécie de transe ruim, como Tom durante suas bebedeiras ou o pavor que Eckhart experimentou. Essa bad trip pode ser provocada por fatores externos desfavoráveis ou condições internas desequilibradas ou simplesmente uma perfeita combinação de ambos. Os meios de comunicação em massa contribuem para que mergulhemos um pouco mais profundamente neste transe negativo. Nós estamos constantemente induzindo este tipo de transe uns nos outros. 
Quero acreditar que um bom antídoto para isso seja utilizar nossa própria capacidade de sintonizar e focar para colocar nossa atenção em coisas, pessoas, condições e eventos mais favoráveis; em sintonizarmos e focarmos em nossos melhores recursos, escolhermos os caminhos que fazem mais sentido dentro de nosso sistema ético ou moral e os relacionamentos que ecoem com nossa verdade pessoal. Buscarmos congruência. 
Então, respondendo às eventuais dúvidas que algumas pessoas podem possuir sobre a hipnose, entrar em transe é o simples ato de estar presente em si mesmo, no aqui-agora, através de auto-observação, respiração e foco mental, permitindo um acesso ao grande caldeirão do inconsciente. É sabido que o cérebro humano tem o transe como fator de regulagem, o que acontece naturalmente durante 10 minutos a cada 60 minutos. Isso acontece com você enquanto está focado na sua xícara de café pela manhã a ponto de não prestar atenção aos ruídos e movimento ao seu redor, quando está profundamente concentrado em uma leitura ou mesmo em um jogo de futebol, ou quando simplesmente está fitando o movimento das copas das árvores dançando com o vento. 
Desse modo, transe é um estado absolutamente natural que acontece com 100% das pessoas. Sobre a hipnose, há três tipos distintos: a hipnose de palco - aquela em que um sujeito coloca outro em transe para entretenimento de uma platéia, responsável pelo medo e preconceito infundido contra esta prática;  a hipnose clínica - em que o hipnoterapeuta tem domínio sobre o processo e o cliente não possui nenhuma autonomia sobre o mesmo; e finalmente a hipnose ericksoniana - em que o hipnoterapeuta se utiliza da linguagem do cliente para auxiliá-lo a entrar em transe, com o objetivo de equilíbrio ou cura, respeitando totalmente a sua identidade e autonomia. Para que o processo aconteça, é preciso que tanto um quanto o outro estejam completamente presentes na ação e em uma fina sintonia um com o outro. Parte-se do princípio que o terapeuta conduz o cliente no caminho da auto-hipnose. E há inúmeros benefícios da hipnose, mas o principal é aprender a pensar e criar, encontrando maneiras de fazer as pazes com os problemas e dores da vida
Decidi escrever sobre o assunto porque tenho visto o modo que muitas pessoas, por desconhecimento ou mesmo preconceito, tratam alguns temas do campo do autoconhecimento e desenvolvimento pessoal com reserva ou mesmo certo desdém. É o caso do Coaching, outra formação que fui buscar recentemente, com o objetivo de aprimorar meus conhecimentos e adquirir uma ferramenta de auxílio nos processos de transformação pessoal, meu e de meus clientes. 
O Coaching é uma metodologia de desenvolvimento humano baseada em foco no futuro, aprendizado constante e ação, caracterizado por um processo sistematizado, estimulante e criativo e por uma parceira entre o Coach (profissional) e o Coachee (cliente), onde se cria um contexto transformacional para o desenvolvimento da performance e alcance de objetivos, com resultados mensuráveis. O principal benefício do Coaching é desenvolver autoconhecimento e criatividade. Que algumas pessoas vejam o Coaching como modismo e uma espécie de caça-niqueis, eu até compreendo. Basta ver a quantidade de cursos de formação que proliferam no mercado bem como de pessoas que os buscam como uma alternativa profissional ou financeira.
É uma questão bastante complicada que tantas pessoas saiam aplicando essas metodologias não possuindo necessariamente habilitação humana para isso. Talvez isso é que 'queime o filme' dos profissionais comprometidos e responsáveis e gerem preconceito sobre as ferramentas. E não estou falando de habilitação enquanto certificação, visto que não acredito que o papel é que autoriza o sujeito à qualquer prática, senão o conhecimento. Eu mesma sou uma autodidata por excelência - vinda de uma longa linhagem de autodidatas - não possuindo certificação para a maioria das matérias que são a base do meu conhecimento (psicanálise, psicossomática, bioenergética, filosofia e arte). Disciplinas que estudo desde os 15 anos de idade, quando então iniciei uma pesquisa sobre esquizofrenia através de compêndios de psiquiatria em bibliotecas públicas, o que me levou a começar a fiar a tessitura do meu estofo intelectual. Da salada mista que é o meu conhecimento, fui buscando acrescentar o tempero da vivência pessoal, do estudo e da prática constante e criando minha própria receita. A cozinha da Malu costuma estar sempre muito ativa. 
Busco o que admiro nesses homens que citei: usar o conhecimento para, antes de tudo, debruçar sobre minha própria biografia, superando limites e vencendo obstáculos. E busco, acima de tudo, congruência. O maior desafio é, certamente, a disciplina. Nada como um bom processo de self-coaching e boas doses de auto-hipnose para atingir esse objetivo. 
Deste modo, pretendo fazer jus a linhagem da minha família bem como de todos os professores e mestres que cruzaram meu caminho e como, Stephen Adler, me brindaram com sua competência em ensinar a aprender. Do autodidatismo à excelência, devo estar por aí, na metade do caminho. Tornar-me-ei, cada vez mais, como boa autodidata, 'ignorante por conta própria' ou 'professora de mim mesma'. Afinal de contas, quem é que nos ensina e autoriza senão nós mesmos? 



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