Diane Arbus - Autorretrato |
O escritor Grégorie Boiullier não teria como saber que sua carta de rompimento com a artista Sophie Calle seria exposta pelo mundo na exposição Cuide de Você. Todas as imagens da obra foram devidamente elaboradas e produzidas em co-parceria entre a artista e os participantes. Sophie com certeza sabe como transformar um evento pessoal em obra de arte, ressignificando sua própria experiência e transcendendo-a em plástica. E Grégorie soube contemporizar a auto exposição de sua intimidade.
Mas "o que aparece" o rosto deduas mulheres que passam de bicicleta na Escócia, a vitrina de uma loja em Paris é convocado, é citado para comparecer no Dia do Juízo
Nesta semana, fui surpreendida sendo involuntariamente catapultada para dentro de um projeto artístico de um casal de jovens artistas, através do Facebook, por tê-los adicionados a meu perfil por termos amigos em comum. Não citarei seus nomes e tampouco do projeto, para preservar suas identidades e não comprometer a efetividade do mesmo. E, embora tenha sido co-autora do livro Crimes na Rede, sou usuária contumaz das redes sociais e, principalmente, do Facebook, onde dialogo com amigos próximos ou distantes, compartilho ideias e projetos profissionais. Há muito não pensava sobre essa questão da privacidade, embora seja bastante importante para mim preserva-la. Em outras palavras, tendo a confiar nas pessoas e sou aberta. Não é incomum que pessoas que conheci virtualmente confiem em mim a ponto de expor ideias, idiossincrasias, projetos de vida... Em nenhum momento, quando interajo com elas, sendo artista e escritora, penso em utilizar suas identidades como base para minha obra literária ou visual. Uma referência ou outra pode acontecer, mas o meu esforço de preservar sua privacidade é tão grande que muitas vezes sacrifico uma possibilidade criativa nisso. Haja visto um projeto com uma dileta amiga de que nossos diálogos virtuais se transformem numa obra literária cujo nome seria Cartas ao Feminino, esteja parado. O esforço de preservar a identidade e privacidade de pessoas que citamos nas cartas é tal, como separar pequenos diamantes na miríade do deserto, que sabemos que nos consumirá muito tempo sobre algo que praticamente nasceu pronto.
Esse projeto artístico virtual que cito, muito bem elaborado e cuja escrita foi muito bem estruturada, tem uma base teórica e um estofo filosófico bastante interessantes. E em momento algum eu questiono a sua validade como arte. O que me incomoda é a falácia da abordagem. Até o presente momento, ao interagir com os personagens, ainda não sei onde termina a realidade e começa a ficção. E sei que, mesmo não tendo autorizado em momento algum minha participação no projeto ou a publicação de minhas declarações no mesmo, corro o risco de que isso aconteça. O mesmo risco de ter minha imagem captada por um atirador de elite no telhado e infinitamente reproduzida na rede.
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