domingo, 8 de abril de 2012

A mulher é o negro do mundo

Cena de Rapture, de Shirin Neshat
Meu manifesto particular:
Sou mulher e não gosto de roupas justas
Sou mulher e não gosto de saltos altos
Sou mulher e não gosto de expor meu umbigo 
Sou mulher e só uso blusas decotadas porque golas mais altas me sufocam
E embora tenha me rendido aos encantos das maquiagens e cosméticos, sou mulher e não me arrumo para os outros (ou outras mulheres)
Sou mulher e, embora quando vá comprar underwears básicas quase sempre não resista a rendas e fricotes, não desejo seduzir com roupas justas, maquiagem, saltos altos, rendas e fricotes
Sou mulher e aprecio sexo; sou mulher e sei separar sexo de outras coisas e não o uso como moeda de troca; sou mulher e reajo a estímulos visuais
Sou mulher e não gosto de ser objetualizada, dirigida e cerceada; não sou frágil e não preciso de proteção
Sou mulher e acredito nos homens e não os generalizo, porque os vejo como eu, com um ser humano em desenvolvimento e talvez um pouco confusos e perdidos em papéis sociais

Sim, com um mês de atraso do propagado (ridículo) Dia da Mulher, venho colocar uma opinião: que todos somos iguais perante a natureza, Universo e quiça exista um(a) Deus-a sem gênero, hermafrodita e andrógino, somos iguais perante ele/ela também, independente de gênero.
Um vídeo no Youtube causou debates sobre brinquedos dirigidos às meninas e aos meninos. E, ontem, lendo uma revista no salão de beleza que frequento semanalmente - dessas dirigidas ao "público feminino", repleta de imagens de uma beleza feminina plastificada e inatingível, com direito à muita maquiagem de estúdio, iluminação e photoshop, recheada de assuntos de "interesses femininos" como dicas de uma astróloga para conquistar os homens de cada signo, como secar a gordura abdominal e decoração de casamento - li uma interessante reportagem sobre o tema. Nela, especialistas afirmam que essa distinção na infância vai determinar os papéis sociais da idade adulta. Que existem atividades  ainda hoje consideradas típicas da mulher, como cuidar da casa e dos filhos, talvez em decorrência da menina brincar de bonecas e casinha, enquanto o menino é estimulado a praticar esportes e molecagens. E que ainda existem profissões consideradas "femininas", que envolvem cuidar do outro, como educação infantil e enfermagem, assim como profissões consideradas "masculinas", como engenharia e neurociência. Neste caso, as mulheres continuam ingressando no mercado de trabalho em sujeição aos cargos masculinos e com salários menores. Pode? Parece que sim.... 
Sim, a mulher é o negro do mundo. Quarenta anos depois que Jonh Lennon declarou isso em uma música, muito pouca coisa mudou, concordo  com Edson Moreira. Talvez haja um pouco mais mudanças em estratos sócio-econômicos e culturais mais altos. Mas questões como a opressão, abuso emocional e mesmo a violência contra a mulher, não são prerrogativa das camadas mais baixas da população. E, muitas vezes, é tão sutil e subcutânea que quase não notamos. Pode vir mascarada de um cuidado excessivo, de um ciúme silencioso, de dependência ou indiferença. Pode vir na forma de brincadeiras entre amigos que colocam a mulher no patamar de uma boneca inflável: usa, usa e quando "estourar", joga fora. 
"Sim, a mulher é o negro do mundo. Se você não acredita, dê uma olhada em quem está contigo. A mulher é o escravo dos escravos." 
O que as mulheres conquistaram com a revolução sexual da década de 70, com a propagada "libertação feminina"? Talvez acumular papéis sociais, como ter dupla ou tripla jornada de trabalho, como ser arrimo de família, como manter financeira e emocionalmente homens perdidos em seus próprios papéis sociais, como gerar meninos e meninas com eternos meninos e ter de cuidar deles sozinhas depois, como ouvir frases como "não quis igualdade de direitos? do que está reclamando agora"? e como permanecer sendo objetualizada, agredida, violentada, ter sua liberdade cerceada e sua sexualidade questionada; e ter de recorrer a subterfúgios para parecer uma "boa moça", ainda agora, no século XXI. E, em algumas sociedades, ainda ser coberta, circuncisada, infibulada, apedrejada à morte o que, por muitos, é considerada uma simples "questão cultural".  
Sim, a mulher continua a ser objetualizada em nossa sociedade moderna ocidental, basta ver as capas de revistas nas bancas de jornais, assistir aos programas de auditório, acompanhar as últimas matérias sobre rape dates (estupro em encontro) ou as polêmicas sobre o comprimento da saia de uma moça num ambiente estudantil (que posteriormente venha a se tornar mais um objeto de consumo de revistas e outros itens) e ainda, os vídeo-clips das musas da cultura pop, mulheres talentosíssimas e com belas vozes mas que essencialmente vendem CD´s por suas imagens-padrão. 
Sim, a mulher é o negro do mundo. Se você não acredita, mulher, dê uma olhada em quem está contigo.

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