sexta-feira, 30 de março de 2012

Mamute - Um Gigante Confinado

obra de Bansky

Dois filmes, um mesmo animal: elefante. Mammoth (Corações em Conflito), Water for Elephants (Água para Elefantes). Animal imenso, forte, capaz de matar um homem com uma pisada. De natureza dócil, domesticável, é capaz de ser detido com uma única vareta presa ao chão e a uma de suas patas, basta condicioná-lo desde pequeno. 
O primeiro filme mostra o confinamento social em que vivemos, o condicionamento que nos leva a repetidos gabaritos, sejam em condições sócio-econômicas muito favoráveis ou absolutamente precárias. 
O segundo, quase uma fábula, revela o aspecto sombrio de um universo de aparência libertária: quem algum dia sonhou em abandonar seu mundo comum e fugir com o circo descobre que até mesmo este símbolo último de liberdade pode se transformar em outra espécie de escravidão, mesmo que voluntária.
Os dois filmes colocam o trabalho como o elemento central que governa nossas vidas. É em torno dele e na órbita do dinheiro que ele proporciona que o mundo gira; nestas horas em que trabalhamos e não vivemos, sejamos ricos ou pobres, porque todos precisamos sobreviver. Da bolsa de valores ou do lixo.
Estamos presos nas nossas rotas de consumo, mesmo que isso dependa do sacrifício de milhões. Como ratos na gaiola, já não sabemos se fazemos a roda girar ou se é ela que nos controla e movimenta. Não sabemos se escolhemos os caminhos ou se são os caminhos que nos escolhem. Vivemos confinados em nossos corpos, desejos e ambições e em nossas próprias biografias e frustrações, interpretando os velhos papéis que nos são designados, numa economia de ações e num repertório limitado de gestos. 
Ambos os filmes tem como pano de fundo o casamento, que muitos ainda consideram uma prisão, cadafalso para o qual continuam caminhando casais dispostos a "se enforcar" juntos. Há tantos que fogem do compromisso quantos são os que o desejam. Nos dois filmes, há uma traição. Quem trai e quem é traído? 
O olhar perdido em perplexa constatação de sua própria impotência e o sentimento de inutilidade diante de um mundo complexo às raias da crueldade e injustiça, que Gael Garcia Bernal e Michelle Williams conferem aos seus personagens em Mammoth, revela nossa condição demasiado humana. Nossa condição de imensos mamutes confinados, atados pelo pé em pequenas varetas presas ao chão. Condicionados, confinados e traídos por nós mesmos em nossa imensa dimensão de mamutes. 

"Cada pequena escolha pode ter um impacto distante no mundo." 


"O mundo é movido por truques. E todos fingem."


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